17 junho 2010

Filmes ou seriados?

Ultimamente tenho visto mais séries do que filmes. Mas, pelo que converso com alguns amigos cinéfilos, não sou o único. Hoje, ao terminar de ver a primeira temporada de Dexter (a quarta terminou em setembro), me peguei refletindo sobre isso. Afinal, qual seria o motivo de deixar um pouco o cinema de lado, para acompanhar diversas séries?

É fato que para um ser humano ser "fisgado" por uma história (enquadremos filmes e seriados aí), o binômio projeção/ identificação é essencial. Quando vemos um filme, por exemplo, torcemos para a personagem "x" ter determinadas atitudes e comportamentos. Se pudéssemos estar no lugar dela, certamente as teríamos, ou, pelo menos, gostaríamos de ter. Quem nunca, literalmente, torceu por uma personagem?

A meu ver, é exatamente aí que as séries levam vantagem. Podemos ter mais tempo com nossas personagens preferidas, torcer, amar, sofrer, desejar... por e com elas. É como se fosse um caso de amor. Mais duradouro, às vezes pode levar várias temporadas. De algumas enjoamos e largamos, mas com outras vamos até o fim. Os filmes seriam como sexo casual. São duas horas, às vezes um pouco menos, às vezes um pouco mais e tchau. Não acontece o envolvimento que uma série pode proporcionar, com vários encontros etc.

Pode ser que o sucesso de continuações e sagas cinematográficas derivem justamente desta questão. O reencontro. Não é minha intenção depreciar o cinema, em favor de séries. Sou cinéfilo de carteirinha e não me separo da sétima arte. Mas estou meio que... dando um tempo. Não vejo mais a quantidade de filmes que via, justamente por causa das séries. Minhas amantes inesperadas. Mas, de vez em quando, dou uma passada em casa, para mostrar aos filmes que ainda estou presente.

O outro lado do cinema nacional





Mais de 16 milhões de espectadores em 2009 garantiram ao cinema nacional o melhor desempenho nos últimos cinco anos (segundo dados da Ancine – Agência Nacional de Cinema), mas isso não é motivo para se comemorar. Dos 84 filmes nacionais lançados comercialmente no ano passado, apenas quatro ultrapassaram a marca de um milhão de ingressos vendidos em 2009 (ver box), números que demonstram que a produção audiovisual brasileira ainda não conquistou um espaço sólido no mercado.

Mesmo com a lei de cota de exibição de longas metragens nacionais, que estipula que cada cinema do país deve exibir filmes brasileiros durante 28 dias do ano, no mínimo (este número, assim como o mínimo obrigatório de títulos, aumenta conforme a quantidade de salas de cada exibidor), não há uma garantia de distribuição democrática para todas as produções, principalmente as independentes. “Há uma espécie de monopolização da Globo Filmes. As grandes salas não têm interesse em exibir filmes independentes”, avalia o ator e crítico de cinema Rangel Andrade.

Os dez filmes brasileiros com maior bilheteria em 2009 (Fonte: Ancine)

Título
Público (2009)
Público total (2009 e 2010)
Renda 2009 (em R$)
Se eu Fosse Você 2
5.786.844
6.112.851
47.622.137
A Mulher Invisível
2.353.136
2.353.136
20.498.576
Os Normais 2
2.202.640
2.202.640
18.978.259,88
Divã
1.866.235
1.866.235
16.492.461,11
O Menino da Porteira
666.625
666.625
4.559.799
Besouro
481.381
481.381
3.769.206,75
O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes
361.030
361.030
1.915.058
Salve Geral
316.077
316.077
2.640.159,02
Jean Charles
292.471
292.471
2.448.735,02
Xuxa em o Mistério de Feiurinha (ainda em cartaz)
250.109
1.200.000
1.766.416,65

Público não acompanha crescimento da produção de filmes nacionais

Enquanto a produção de filmes brasileiros cresceu 163% entre 2001 e 2008 (segundo dados da Ancine), o público não acompanhou esta que é a melhor fase do cinema nacional, desde a retomada. A venda de ingressos, neste mesmo período, cresceu apenas 6,6%. Rangel Andrade atribui este problema à distribuição ineficiente (restrita aos grandes centros) e à ausência de produções independentes nas grandes redes exibidoras: “Temos excelentes salas que não dão o devido investimento às produções nacionais de baixo orçamento”, afirma.

“A atual produção brasileira se foca mais em lançar filmes comerciais, que apenas divertem, em vez de dar aos espectadores a chance de pensar, questionar e se informar, característica mais comum aos filmes de arte, em sua imensa maioria, independentes, com pouco apoio e precária distribuição”, opina Rangel. Pensando nisso, o empresário Adailton Medeiros, que já participou de importantes projetos culturais, como a Lona Cultural de Anchieta, resolveu aproximar o cinema nacional de uma parcela menos favorecida da população. Para isso, ele escolheu abrir um cinema em Guadalupe, subúrbio do Rio de Janeiro.